Vinicius Torres Freire/ Deterioração é menos sentida como crise, mais como mal estar

A gente tem ouvido muita notícia de que a economia brasileira está esfriando aos poucos.

Jornal da Gazeta

A gente tem ouvido muita notícia de que a economia brasileira está esfriando aos poucos. Algumas pessoas até já estão então sentido o problema na carne, como quem tem emprego mais ligado à indústria.
Mas alguns números parecem contraditórios. O desemprego não é o mais baixo da história, como a gente soube ontem? É. Mas porque tem muita gente que desistiu de procurar trabalho, por motivos variados. E a pessoa só entra na estatística de desempregado quando procurou emprego e não achou. Quem não trabalha mas não procura trabalhar não é considerado desempregado.
O desemprego é o menor da história mas o número de pessoas empregadas, nas grandes metrópoles, não sobe desde outubro do ano passado. O mercado de trabalho empacou. Nem há muito mais demissão nem mais contratação.
Outra estatística que parece estranha nesse período de esfriamento da economia é a dos gastos dos brasileiros com viagens e compras no exterior. Continuam altos. De janeiro a abril, foram 6% maiores que no mesmo período do ano passado. O Banco Central, que faz essas contas, diz que, no final do ano, tende a dar empate entre os gastos de 2013 e de 2014. Ainda assim, a economia não está esfriando?
Está. Está desmelhorando, mas não começou a piorar pra valer. Além do mais, a renda média ainda cresce no país. Além do mais, o dólar deu uma barateada de fevereiro para cá.
Enfim, para resumir a ópera: o emprego nas grandes cidades parou de crescer, mas não há demissões, embora a gente não saiba da situação no restante do país, que parece um pouco melhor no interior. A renda e o consumo sobem cada vez mais devagar. A confiança dos consumidores e dos empresários caiu para o mesmo nível dos anos de crise, em 2009. Mas toda essa deterioração acontece devagarinho. Desde 2012, pelo menos, aos poucos. Por isso é menos sentida como crise, e mais como um mal estar.