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Turquia decide seu futuro no domingo
Comentário de Política Internacional, com João Batista Natali.

Jornal da Gazeta
muçulmano, as coisas andam mais agitadas. Sobretudo na Turquia, onde, neste
domingo, o presidente Tayyip Erdogan pode se transformar no ditador Tayyip
Erdogan. Ele já está quase lá. Erdogan convocou um referendo para aprovar mudanças
na Constituição. Essas mudanças acabam com o cargo de primeiro-ministro, que é o
representante do Legislativo. Elas tiram poderes do Parlamento, e colocam o
Judiciário sob a tutela do governo. As pesquisas de intenção de voto dão uma
vantagem de apenas dois pontos para a proposta de Erdogan. Mas a verdade é que
ele, se perder, vai continuar a mandar como já está mandando. Os poderes dele
foram aumentados em julho do ano passado, depois de uma tentativa fracassada de
golpe de Estado. Em resposta, Erdogan promoveu o maior expurgo da história da
Turquia. Prendeu ou aposentou à força 130 mil servidores. Entre eles, 8 mil
oficiais do Exército, 5 mil professores universitários e 4 mil juízes. Proibiu 170
jornais ou sites da internet, e também fechou 15 universidades. Na campanha para o
referendo, os adversários de Erdogan tiveram só 40 horas de debates na televisão.
Mas os bajuladores do governo ganharam 480 horas, ou 12 vezes mais. Isso quer
dizer que Erdogan precisa dessa pouca-vergonha de desequilíbrio, para chegar aos
50% dos votos. Mas se ele conseguir, a pergunta que se pode fazer é a seguinte.
Como é que um povo pode votar contra as suas próprias liberdades políticas, votar
em favor da ditadura? A história da Turquia foi complicada nos últimos 100 anos,
mas dá para dizer, resumidamente, que Erdogan representou a volta às instituições
do espírito muçulmano moderado. Mas o importante é que os mandatos dele, como
presidente e como primeiro-ministro, coincidiram com um forte crescimento da
economia. É por isso que, no domingo, os turcos não vão votar só com a cabeça e
com o coração. Vão votar também com o estômago e com o bolso. É assim que o mundo
gira. Boa noite.