Salário de servidor tem distorções e privilégios

Comentário de Economia, com Vinícius Torres Freire.

Jornal da Gazeta

A gente está ouvindo falar dessa polêmica dos reajuste dos salários dos servidores públicos do governo federal.
A conversa agora é sobre o reajuste dos ministros do Supremo Tribunal Federal, que teoricamente é o teto dos salários do funcionalismo federal. Se os salários do Supremo aumentam, crescem também outros do governo federal e nos Estados.
A despesa aumenta. Mas a maior parte dos aumentos dos servidores federais já passou no Congresso, em junho. A despesa vai aumentar, aos poucos. Em 2018, será 32 bilhões maior. É dinheiro. Equivale a dois terços de tudo o que o governo federal gastou em obras, no país inteiro, no último ano.
E esse dinheiro nem existe. Pra pagar os reajustes, terá de fazer mais dívida, pagar mais juros, para quem já é rico e empresta ao governo.
Os servidores em geral têm tido reajustes baixos, quando tem, argumentam eles e o governo. É verdade. Mas, mesmo assim, a despesa média por servidor aumenta, pois são contratados mais servidores nas carreiras que paguem melhor.
Na média, desde 2011, o gasto médio do governo com salário por servidor subiu 6,7% acima da inflação, para 9.290 reais em média. O salário médio dos empregados do setor privado subiu 4%, para 2019 reais. Mais gente pode ter tido reajuste maior. Mas a média dos salários de quem é empregado subiu 4%.
Os salários no setor público federal são bem maiores. A qualificação e a formação dos servidores, no entanto, são também bem maiores. Ainda assim, há distorções: as mesmas funções pagam muito mais no setor público do que no privado, em especial as que exigem menos qualificação.
A despesa federal com salários tem ficado mais ou menos estável, em cinco anos. Mas há muita distorção, como aposentadorias gordas concedidas no passado. Na média, cada aposentado do Poder Judiciário federal leva mais de 25 mil reais por mês. No setor privado, o teto das aposentadorias é de 5.147.
Os servidores não podem ficar sem reajustes, claro. Mas, no momento, os salários médios no setor público crescem; no setor privado, caem, fora o desemprego. Há injustiças de privilégios do passado, que inflam os gastos. No mínimo, neste momento de crise horrível, os reajustes deveriam ser adiados.

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