Pela Grécia, boicote a produtos alemães

É sempre muito cômodo interpretar os fatos como um confronto entre mocinhos e bandidos, uma luta entre o bem e o mal. Pois a crise da dívida da Grécia, desde que ela se agravou há cinco anos, tem sido apresentada desse jeito, que eu considero, simplesmente, idiota.

Jornal da Gazeta

É sempre muito cômodo interpretar os fatos como um confronto entre mocinhos e bandidos, uma luta entre o bem e o mal. Pois a crise da dívida da Grécia, desde que ela se agravou há cinco anos, tem sido apresentada desse jeito, que eu considero, simplesmente, idiota. Pois bem, na madrugada de segunda-feira o governo grego aceitou condições humilhantes dos credores para que o país volte a funcionar. E, na madrugada de hoje, o Parlamento, em Atenas, aceitou o plano que o governo tinha sido obrigado a engolir. Isso vai aumentar ainda mais a recessão e o desemprego. O primeiro-ministro grego, Alexios Tsipras, é de esquerda. É aí que as coisas se complicam. Como se o conflito religioso, era preciso encontrar o agente do mal. Foi então que a Alemanha virou o bode expiatório. Ela é a maior credora da Grécia. Tem 62 bilhões de dólares em papagaios. E passou a circular na internet um apelo para que se boicotem produtos alemães. A BBC diz que a campanha partiu, no domingo à noite, de um grupo de anarquistas americanos. Mas essa campanha foi, imediatamente, apoiada por grupos anarquistas e de esquerda, na Europa e em outras regiões do mundo. Essa história de boicote como vingança política é velha como andar para trás. Mas ela nunca pegou. Lembro-me que há muito tempo circulavam na Europa apelos para que não se consumissem abacates de Israel. Era em solidariedade com os palestinos. E que não se consumissem laranjas da África do Sul. Era em solidariedade com os negros, durante o apartheid. Mas na época não existiam ainda redes sociais. Hoje o FaceBook ou WhatsApp conseguem espalhar ideias com uma imensa velocidade. O governo alemão não passou recibo sobre a campanha de boicote. Está quietinho no canto dele. Mas ninguém sabe se a campanha pode se espalhar, e fazer um belo de um estrago comercial. Não há nenhum modelo na internet capaz de dizer quando uma ideia pega, e quando uma ideia não vai pegar. Tomara que desta vez ela não pegue. Seria burrice. É assim que o mundo gira. Boa noite.

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