O que é que Israel procura esconder?

Comentário de Política Internacional, com João Batista Natali.

Uma decisão muito grave foi tomada na quarta-feira por Israel. O governo decidiu não dar visto de entrada para um pesquisador-sênior da Human Rights Watch, que é uma respeitada ONG de direitos humanos. O veto foi noticiado pelo jornal de oposição Haaretz. Virou um escândalo. A notícia também chegou à distante Austrália, onde o primeiro-ministro de Israel, Benyamin Netanyahu, estava em visita oficial. Mas Israel recuou, hoje, dessa decisão ditatorial. Para salvar a reputação de Netanyahu, o Ministério das Relações Exteriores disse que o primeiro-ministro nada sabia. Mas a verdade é que nesse recuo teve dedo dos Estados Unidos. Não da Casa Branca, de Donald Trump, mas da diplomacia americana. Ela se mexeu, porque a Human Rights Watch tem sede em Nov a York. Precisamos nos perguntar o seguinte. Ao bloquear a entrada da ONG, o que é que Israel procura esconder? A entidade de direitos humanos se movimenta pelo território israelense, sem ser incomodada, há mais de 30 anos. Denuncia violações dos direitos humanos contra os palestinos. Mas também denuncia as prisões e execuções sumárias, praticadas pelo grupo palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza. E vejam que Israel é o único país verdadeiramente democrático do Oriente Médio. Se ele é hoje governado pela direita laica, aliada à extrema-direita religiosa, é porque o eleitorado assim decidiu. Essa liberdade política não existe na Arábia Saudita, na Síria ou em outros cantos do mundo árabe, com a exceção mais ou menos do Líbano, Tunísia e Marrocos. A questão palestina &eac ute; uma ferida nos 67 anos de história de Israel. Não pode haver democracia só para os judeus. Mas o território da Cisjordânia não está apenas ocupado por forças militares. Está também ocupado por 600 mil colonos judeus, que têm prioridade de acesso à água e às terras férteis. Nesse deserto do Oriente Médio, acesso à água é uma questão imensa de direitos humanos. É assim que o mundo gira. Boa noite.