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Na tragédia, empresas se dizem meras acionistas

Jornal da Gazeta
A gente ainda não sabe o que causou o desastre. Mas sabe que não havia plano nenhum de conter o tamanho do estrago, como se viu. Morreram provavelmente 27 pessoas, vilas foram destruídas para sempre, bichos, matos e rios estão sendo arrasados. A cidade de Governador Valadares, no meio do caminho do rio de lama assassina, ficou sem água para beber.
Quem são os donos da Samarco? A brasileira Vale e a anglo-australiana BHP, meio a meio. O que disseram hoje essas empresas para a imprensa estrangeira? Que a Samarco é independente, em termos administrativos e financeiros A Vale foi mais longe. Disse que é, abre aspas, "apenas uma mera acionista da Samarco, sem qualquer interferência operacional na administração dessa companhia, de modo direto ou indireto, próximo ou distante" fecha aspas.
Existe responsabilidade limitada, em termos financeiros, por exemplo. O dono de uma empresa por perder bens até o limite do capital investido na empresa, com variações de acordo com as leis de cada país. Os sócios controladores de uma empresa também têm "responsabilidade limitada". Isso incentiva investimentos, diz a teoria econômica. Mas também pode ser um incentivo à irresponsabilidade em outras áreas.
Por exemplo, essas grandes empresas se gabam de ter "responsabilidade social e ambiental". Pelo jeito, da boca pra fora. Quando entra lama no negócio e muita gente morre, as empresas começam a dizer que são "meras acionistas".
O problema é que "estamos em 2015", como disse outro dia o novo primeiro-ministro do Canadá. Muita coisa mudou em termos de direitos humanos e sociais. As leis da responsabilidade limitada tem novos condicionantes e interpretações. No mínimo, empresas que querem tirar o corpo fora e só querem saber do bem bom, no mínimo, para começar, vão ter sua reputação destruída. Mas isso é só o começo.