João Batista Natali /Chilenos pagarão a conta de um ensino melhor e gratuito

Vamos falar do Chile. A socialista Michelle Bachelet assumiu hoje pela segunda vez a presidência chilena. O Chile é um país pequeno.

Jornal da Gazeta

Vamos falar do Chile. A socialista Michelle Bachelet assumiu hoje pela segunda vez a presidência chilena. O Chile é um país pequeno. Tem 17 milhões de habitantes. Mas tem uma renda média bem maior que de outros latino-americanos, como Brasil, Venezuela, Uruguai ou Argentina. Em 2010, Bachelet terminou seu primeiro mandato, e transferiu o poder para o conservador Sebastian Piñera. Um ano depois, começaram os protestos estudantis. A pauta dos estudantes era detalhada. Eles queriam educação gratuita e de qualidade. É saudável ter um movimento estudantil que mostre ao governo quais são os problemas. No Brasil já foi assim há muitos anos. Mas depois a UNE perdeu a representatividade e virou uma espécie de ONG, imobilizada pelo cabresto federal. Voltemos ao Chile, onde 85 por cento das escolas fundamentais têm aulas em período integral. Mas é um ensino pago. Nas escolas primárias, quase todas das prefeituras, os alunos recebem um voucher do governo que cobre quase todo o valor das mensalidades. Mas, no ensino superior, até as universidades públicas são pagas, e o voucher é muito menor. Michelle Bachelet quer aumentar a gratuidade e diminuir o peso do mérito no ensino superior. Por esse sistema, pagam menos os alunos com notas mais altas. A carga tributária chilena é bem menor que a do Brasil. Paga-se menos impostos. A nova presidente deverá, então, aumentar a carga tributária. Ela nunca escondeu que faria isso para, em dezembro último, vencer o segundo turno presidencial com 62 por cento dos votos. Em outras palavras, os chilenos acham que a gratuidade maior do ensino tem um preço e estão dispostos a pagar por isso. Nos últimos exames internacionais de avaliação, o Chile só ficou atrás de um país, do Uruguai, em matemática. Mas em leitura foi melhor que todos os seus vizinhos do continente. Existem menos de 2 por cento de analfabetos. É um país com menos problemas que o nosso. E que funciona. É assim que o mundo gira.