É possível acabar já com a miséria

Comentário de Economia, com Vinicius Torres Freire.

Jornal da Gazeta

De cada cinco brasileiros, um é criança. Tem menos de 14 anos. São 42 milhões de crianças, portanto. Quase metade dessas crianças vive na pobreza, segundo o IBGE.
Na média do país, um quarto da população é pobre.
As crianças são mais afetadas pela pobreza que os adultos.
Não é preciso explicar para ninguém que deixar crianças na pobreza é condenar o futuro. Criança pobre tem mais dificuldade de se sair bem na escola, fica mais doente, fica mais sujeita à violência.
O que quer dizer pobre, por esse critério do IBGE? Pobre é aquela pessoa que vive em uma família em que a renda por cabeça é menor que 387 reais por mês.
Quer dizer, uma família de dois adultos e duas crianças que vive com 1500 reais por mês já é pobre.
Mas renda não diz tudo sobre pobreza. Uma de cada três pessoas pobres não tem acesso a água encanada, esgoto e coleta de lixo. Além de não ter renda suficiente, fica mais sujeita à doenças e durezas da vida.
As pessoas pretas e pardas sofrem mais. A proporção de pobres entre brancos é a metade da que se vê entre pretos e pardos.
Sim, tem gente que vive ainda pior, em extrema pobreza ou miséria. Quer dizer, vive em famílias de renda por cabeça de até 85 reais por mês.
Diminuir pobreza é um assunto enrolado, que tem de ser tratado em várias frentes, de educação a crescimento da economia. Mas o Brasil tem condições de acabar já com a miséria, com assistência social. O economista Naércio Menezes, professor da USP, fez essa conta, em artigo que publicou hoje no jornal "Valor".
Com 30 bilhões por ano, o governo federal acaba com a miséria extrema. É meio por cento do PIB, de toda a renda que o país produz em um ano. É o valor que o governo e o Congresso decidiram gastar a mais a partir do ano que vem com reajuste para servidor federa e perdão de dívidas, em geral para grandes empresas.
Não se acaba com pobreza apenas com Bolsa Família, transferência de renda etc. Mas daria para remediar as desgraças mais imediatas se o dinheiro público não fosse gasto de modo tão errado, com quem não precisa.

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