Desigualdade, matança, avacalhação da Política, e a pergunta cínica: como aconteceu?

Comentário de Política, com Bob Fernandes.

Imagens de guerra civil. 1.195 mortes violentas no Rio e Brasil afora. Em uma semana. E tem quem só agora pergunte: como isso pode acontecer?
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Uma resposta, que cinísmo e hipocrisia buscam esconder, sempre esteve nas desigualdades brutais...
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...Desigualdade secular. Emprenhada em 350 anos de escravidão, depois largada e reproduzida por ai. Como um paradoxo: aos olhos de todos, mas invisível.
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Mais do que nunca gente morando nas calçadas, praças, debaixo de marquises...
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...Humanos vistos como estorvo. Sejam pobres de volta à miséria, sejam zumbis do crack e desespero.
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Mas quase nunca imagens publicadas, republicadas. Porque se assim fosse
multidões enxergariam o que cada um já vê, dia e noite.
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Nunca o debate com imagens e depoimentos que exibam cruamente o que também somos.
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Nas esquinas, malabaristas, pedintes, assaltantes...ou vendedores em nome de Deus.
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Como isso pode acontecer, perguntam durante morticínio cotidiano.
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Como perguntar isso se, ano a ano, já são quase 60 mil os mortos pela violência?
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Como, depois de 35 anos e 1,5 milhão de homicídios, assassinatos? E por quê?
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Porque esses mortos são apenas estatística. Sem rosto, sem nome, sem CPF ilustre. Não é gente que mereça imagens, debates.
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O que garante imagens, debates, manchetes, é a mútua acusação: quem roubou mais, quem têm mais condenados, delatados? E isso explica muito...
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Descarte, e festejos com uma gambirra jogando Aécio no buraco criado por ele mesmo. Euforia com Palocci delatando. Autoavacalhação e avacalhação.
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Seguem entregando o espaço e caminho inevitável, a Política, para o que há de pior.
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Entregando para o Velho, quando não velhaco, travestido de Novo. Entregando a corruptos que agora, de novo, comprarão corruptos. Sempre em nome do futuro.
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Pouco importa se isso ameaça trazer de volta passado obtuso, também violento.
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Cresce a ignorância, intolerância. Invocando moral e bons costumes que não têm, nunca tiveram.
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Ressentimento, frustração, brutalidade, ódio... O que há de pior avança. Os que, só agora, perguntam como isso aconteceu são parteiros dessa história.