A crise piora, e tudo está sendo deixado de lado

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O que mais chama atenção é a piora das projeções para o ano que vem. Em relação ao PIB, a previsão deu um salto. Na semana passada estava em 1,51% agora foi a 1,9%. Essa expectativa de recessão mais pesada em 2016 tem relação direta com o fato de o governo não estar conseguindo apresentar qualquer proposta mais consistente para o ajuste fiscal. Ainda não sabe, por exemplo, como lidar com o rombo deste ano, previsto, segundo os últimos cálculos, em 120 bilhões de reais, incluindo as pedaladas. E, para o ano que vem, a proposta está, de novo, muito focada no aumento da carga de impostos ou corte de gastos que, na prática, se traduz muito mais em cortes de investimentos, de programas sociais. Não é corte de gastos pra valer. É sempre o velho discurso de que há limitações legais ao corte de determinadas despesas. Mas do lado da carga tributária sempre dá pra avançar. Por mais que o ajuste seja importante para a retomada do crescimento, da forma como estão tentando fazer, o impacto inicial pode ser negativo para a economia. Por outro lado, não há iniciativas no sentido de estimular a produção, a competitividade, os investimentos. Preocupado em sobreviver politicamente, em aumentar impostos, o governo não acelerou sequer as concessões em infraestrutura, que poderiam gerar uma receita mais saudável, além de garantir investimentos em áreas estratégicas, como transportes e energia, e até emprego. Tudo está sendo deixado de lado. Postura que piora mais as expectativas em relação ao que pode acontecer com a economia, inibindo iniciativas, como investimentos do setor privado e até consumo, que poderiam ajudar a amenizar a crise. Tem mais: essa incapacidade de o governo sinalizar um horizonte melhor para o País joga contra ele próprio. A sociedade vê, cada vez mais, a mudança de governo como a única saída, o que só faz a crise se arrastar, porque também do lado político ainda não há uma indicação melhor. É por tudo isso que não dá pra esperar muito de 2016. Pelo menos, por enquanto. Eu volto na quinta. Até lá.