Barack Obama deixará saudades

Dentro de mais três dias, Barack Obama não será mais o presidente dos Estados Unidos.

Pois é. Dentro de mais três dias, Barack Obama não será mais o presidente dos Estados Unidos. Mas tomem cuidado com o efeito de contraste. Obama é tão mais simpático que Donald Trump, que a tendência é quase pedir que o Vaticano canonize o primeiro presidente negro da história americana. Mas ele também errou, e errou feio. Apoiou os rebeldes da Síria, e acreditou que a guerra civil duraria algumas semanas. Já dura seis anos. A Síria provocou a crise de refugiados na Europa, responsável pela saída dos britânicos da União Europeia. Obama acreditou nessa peça de ficção política chamada Primavera Árabe. Com isso, jogou a Líbia num buraco, de onde ela ainda não saiu, e favoreceu uma nova ditadura no Egito. E não foi hábil ao disputar com a Rússia a hegemonia na Ucrânia. A Rússia acabou anexando a Crimeia, e isso gerou novas tensões no Leste Europeu. No Oriente Médio, Obama fez corpo mole na tensão entre Israel e palestinos. Mas ele acertou ao reatar relações diplomáticas com Cuba. E também ao assinar, com o Irã, um acordo que afastou o perigo de mais um país com a bomba atômica naquela região delicada. Retirou as tropas americanas do Iraque e do Afeganistão. Em termos de política interna, Obama foi nota dez em economia. Tirou o país da crise conhecida como subprime. O Obamacare levou planos de saúde aos mais pobres. O desemprego, que chegou a 10 por cento em 2008, está hoje em 4,6 por cento. Ele só deixou de fazer aquilo que não é atribuição de um presidente. A pauta de direitos humanos pertence em grande parte aos Estados. Não deu para desarmar a população, e forçar um recuo da pena de morte. Nem punir policiais que mataram criminosamente dezenas de negros. Mas ele acabou com a discriminação de gays e lésbicas nas Forças Armadas. E os grandes atentados terroristas ficaram circunscritos à Europa. É um balanço razoável. E é por isso que Barack Obama deixará saudades. É assim que o mundo gira. Boa noite.