Temer já teve problema demais em prazo tão curto

Não houve a lua de mel que se esperava entre o mercado e o governo Temer.

Não houve a lua de mel que se esperava entre o mercado e o governo Temer. Há muita confiança na equipe econômica, que tem toda capacidade técnica para elaborar medidas eficazes pra tentar reverter o déficit fiscal, estimado em mais de 170 bilhões de reais, e ainda estabelecer as condições para a retomada do crescimento, com maior estímulo aos investimentos e ao comércio exterior. Só que as medidas de ajuste estão demorando pra sair, o que já gera muita ansiedade e especulação. E ainda tem as idas e vindas, adiamentos e a questão política. O mercado reagiu de forma muito negativa ao vazamento das conversas de Romero Jucá, tanto pelo aspecto político como econômico. Afinal, ele é uma das principais lideranças do governo, do partido do governo e Ministro do Planejamento, que, junto com a Fazenda, deverá encaminhar a nova política econômica e as discussões com o Congresso. Sendo que a própria formação do Ministério já não vinha agradando, por ter vários políticos investigados, além de Jucá, fora a escolha do novo líder do governo, deputado André Moura, com processos em andamento na Justiça e proximidade demais com Eduardo Cunha. Mais que austeridade e competência na gestão da economia, o mercado e toda a sociedade esperam maior moralidade do novo governo, probidade administrativa, e firmeza nas decisões. Não dá pra ficar cedendo a pressões, como fez com a recriação do Ministério da Cultura, com os desmentidos de declarações de vários ministros. Tudo isso passa a idéia de uma fragilidade, de uma intenção de conciliar interesses e de agradar, que não condiz com a determinação necessária para a implementação de mudanças que possam estabelecer uma evolução melhor da economia. O rombo das contas públicas não vai ser revertido sem uma postura muito firme, porque vai contrariar interesses. O governo vai ter que mexer em benefícios, desonerações, programas sociais, despesas prioritárias, levar adiante reformas, como a da Previdência, e até vir com algum aumento da carga tributária, ainda que não seja de imediato. Mesmo com tudo isso, as contas podem continuar no vermelho por muito tempo. O que dá é pra sinalizar uma situação melhor, que gere confiança e ajude a destravar investimentos, inclusive com maior participação do capital externo. Tudo bem que o novo governo tem pouco mais de uma semana. Ainda está se estabelecendo. Mas já teve problema demais para um prazo tão curto. Para uma estréia que gerou tanta expectativa, não está indo bem. Boa noite.