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O legado de Helmut Kohl

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Para começar, eu quero dizer uma coisa importante. A história não é feita só por grandes homens. Ela é construída, diariamente, por milhões de cidadãos anônimos. Mas existem grandes homens que dão uma empurradinha na história e acabam ganhando muita importância na posteridade. Pois o grande homem de hoje é o alemão Helmut Kohl. Ele tem 85 anos e está internado numa clínica de Heidelberg. O estado dele é terminal. Ele foi chanceler alemão por 16 anos, até 1998. O único alemão que governou antes dele, por tanto tempo, no século 19, foi Otto von Bismarck. Pois Kohl e Bismarck têm algo em comum. Os dois reunificaram a Alemanha. Bismarck fabricou um Estado a partir de uma colcha de retalhos de monarquias e cidades autônomas. Helmut Kohl juntou à República Federal a Alemanha Comunista, que entrou em colapso depois da queda do Muro de Berlim. Foi uma tarefa dificílima. Era preciso reformar e modernizar aquele pedaço oriental de Alemanha, que estava sob influência soviética. Foi também preciso enfrentar baixa produtividade e desemprego. Helmut Kohl, que era um conservador, deu as mãos ao presidente da França, François Mitterrand, um homem de esquerda. Eles construíram a União Europeia e se juntaram para criar uma moeda comum, o euro. Helmut Kohl caiu em meio a um escândalo de caixa-dois do partido dele, o Cristão Democrata. Um livro publicado no ano passado mostra que, ao lado do Helmut Kohl gentil e enérgico, havia também um homem, de língua afiada. Ele criticava a atual chanceler, Angela Merkel, por não saber segurar garfo e uma faca numa mesa de banquete. Dizia que Mikhail Gorbachov, o último dirigente soviético, deixaria um legado do qual ninguém iria se lembrar. A Europa que Mitterrand e Helmut Kohl construíram está aí. Com muitos problemas. Mas ela atingiu seu grande objetivo. Com as economias e as sociedades integradas, não teremos uma terceira guerra mundial nos territórios da Alemanha e da França. É assim que o mundo gira. Boa noite.
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